Ementa
A ACCS CCRIM - Diálogos entre Universidade e Comunidade visa ao intercâmbio de conhecimentos, experiências e vivências concretas entre a Universidade e a Comunidade nos locais de aprisionamento de sujeitos. O trabalho a ser desenvolvido tem por lente de análise as instituições de encarceramento enquanto locais de depósitos de corpos indesejáveis – negros, pobres e jovens, que ideologicamente agem retirando a responsabilidade de envolvimento da sociedade com os problemas ligados à sua construção, especialmente o racismo (DAVIS, 2018) e o neoliberalismo, bem como interrompendo narrativas e histórias desses(as) sujeitos(as) criminalizados(as) a partir da lógica do biopoder, em que se faz morrer e se deixa viver (FOUCAULT, 2002), e da necropolítica, atenta às políticas contemporâneas de genocídio do povo negro (MBEMBE, 2018).
A Academia vem ocupando espaço no que se refere à produção de conhecimento sobre a população em situação de encarceramento. Do ponto de vista dos estudos prisionais, a exemplo, observa-se que, desde 2000, as pesquisas aumentaram consideravelmente (SALLA, 2006). Contudo, esta Universidade produtora de um saber-poder, fincado nos pilares do Ensino, da Pesquisa e da Extensão, ainda demonstra resistência no que tange a projetos extensionistas voltados às pessoas em situação de cárcere, sobretudo, se for considerado o critério de permanência para desenvolvimento dos trabalhos, assim como atividades que tenham como referenciais os(as) sujeitos(as) e suas narrativas. O intercâmbio de saberes, experiências e vivências entre a Universidade e os cárceres, enquanto parte da Comunidade, tem por objetivo a (re)construção dos diálogos cujas premissas são a escuta do(a) outro(a), o empoderamento enquanto sujeito(a), a observação às peculiaridades locais para o desenvolvimento das atividades que se destaquem pelo protagonismo dos(as) sujeitos(as) envolvidos(as).
Assim, o compromisso social está diretamente ligado à (re)construção de histórias rompidas (ou não) sob o ponto de vista dos(as) autores(as) das narrativas. Dessa forma, busca-se estabelecer os diálogos - enquanto trocas de saberes e práticas - por meio das metodologias que envolvem a Educação Popular e a Pedagogia Griô, a partir de uma epistemologia abolicionista e decolonial. A Educação Popular como ato político constitui a fundamentação teórica Freiriana em que, o processo emancipatório se dá através da conscientização da realidade histórica e social. A partir da dialética da troca de experiências com o outro, a pedagogia libertadora possibilita a criação de distintas relações entre o indivíduo e a sociedade vigente. Aprender como ato revolucionário e como construtivo da autonomia, dialogando com contexto da percepção de mundo daquele sujeito, firma o instrumento básico de enfrentamento e potencialização da busca pela consciência da transformação social. Do mesmo modo, a Pedagogia Griô, idealizada pela educadora Líllian Pacheco, a partir da sua prática pedagógica no Grãos de Luz e Griô, Lençóis-BA, coloca como centro do saber a vida, a identidade e a ancestralidade dos estudantes. A vivência, a oralidade e a corporeidade são referências do processo de elaboração do conhecimento; e os griôs e mestres protagonistas na educação da comunidade.
Neste semestre, a ACCS tem por objetivo central a retomada do protagonismo das histórias interrompidas antes, durante e depois das passagens pelos estabelecimentos para cumprimento de medidas socioeducativas de internação. Através da educação popular, busca-se a (re)construção de diálogos permanentes entre estudantes universitários(as), professores(as), psicólogos e assistentes sociais e os(as) jovens em situação de internação nas Comunidades de Atendimento Socioeducativo-CASES, em Salvador-BA. Nos semestres subsequentes, pretende-se dar continuidade à atividade mediante extensão dos diálogos a outros espaços de encarceramento, tais como penitenciárias, presídios e cadeias de Salvador-BA.
Inscrições
Inscrições para o componente curricular semestre 2020.1: https://forms.gle/zzbZUrsYMebpreKb6